
Tese central
A maioria dos PMs não é boa em estratégia. Para resolver isso, Martin propõe o uso do Decision Stack como ferramenta prática para tomar decisões estratégicas claras e alinhadas em produto.
A falta de pensamento estratégico em produto
Muitos PMs focam apenas em execução, priorização e roadmap, sem clareza estratégica ou alinhamento com o restante da organização. Isso isola o time de produto e leva à fragmentação de esforços.
Eriksson argumenta que é papel do time de produto construir uma visão e uma estratégia iniciais, mesmo que sejam rascunhos (strawman), para iniciar conversas com liderança e outras áreas.
O que é o Decision Stack
What is the Decision Stack?A mental model for strategic alignment.
O Decision Stack é um framework proposto por Eriksson com cinco camadas que ajudam a estruturar o pensamento estratégico de forma clara e compartilhável:
- Purpose – Por que existimos?
- Vision – Onde queremos chegar?
- Strategy – Como vamos chegar lá?
- Goals – O que queremos alcançar no curto/médio prazo?
- Principles – Como tomamos decisões no dia a dia?
Cinco perguntas para preencher o Stack
Eriksson propõe usar essas perguntas como guia para montar o Decision Stack:
- Where are we going?
→ Qual é a direção? Qual o destino final? (Visão)
- How are we going to get there?
→ Qual o caminho? Quais escolhas estratégicas vão nos levar até lá? (Estratégia)
- What matters right now on that journey?
→ O que é prioridade agora? (Objetivos)
- What actions are we going to take to move forward?
→ Que ações ou iniciativas vamos executar? (Oportunidades ou apostas estratégicas)
- How do we want to do that work?
→ Quais são os princípios, valores ou formas de operar que guiarão o trabalho? (Princípios)
O que é estratégia
"Strategy is making choices." (definição do Michael Porter)Estratégia é fazer escolhas — ou seja, decidir o que fazer e, principalmente, o que não fazer.
"Strategy is a coherent set of choices about what we're going to do to achieve our vision." (Essa tá mais pro Roger Martin)Estratégia é um conjunto coerente de escolhas sobre o que vamos fazer para alcançar nossa visão.
Eriksson destaca duas definições que considera fundamentais:
- "Strategy is making choices." (Michael Porter)
- "Strategy is a coherent set of choices about what we're going to do to achieve our vision."
Ele destaca três pontos críticos nessa definição:
- Fazer escolhas reais (em vez de querer fazer tudo para todos).
- Coerência entre as escolhas (mercado, produto, go-to-market, suporte etc. devem se reforçar).
- Conexão com a visão (a estratégia é o caminho escolhido para realizar a visão da empresa).
Estratégia de produto e estratégia de negócio
Product strategy é a interpretação da business strategy sob a ótica do produto.
- Product strategy não existe isolada
Ela depende das decisões feitas no nível de negócio: mercado-alvo, vantagem competitiva, posicionamento etc.
- Se o produto é o negócio (ex: SaaS, fintech):
- Estratégia de produto e estratégia de negócio quase se sobrepõem.
- O produto é o canal, a entrega e a monetização.
- Se o produto suporta o negócio (ex: e-commerce, serviços):
- A estratégia de produto está subordinada à estratégia comercial, operacional ou de canais.
- O foco está em eficiência, escala, suporte à operação principal.
Quando o Decision Stack falha
Conflitos, desalinhamentos entre áreas e dificuldades de priorização geralmente apontam para problemas em uma ou mais camadas do stack — especialmente estratégia ou objetivos.
Produto deve liderar a articulação dessas camadas, mas o processo precisa ser colaborativo com liderança, marketing, vendas e outras áreas.
Roadmaps não são estratégia
Eriksson afirma que gostaria que roadmaps morressem, ou ao menos fossem profundamente repensados, por três razões:
- Roadmaps puxam para discussões táticas (features), e não estratégicas.
- PMs acabam obcecados por listas de funcionalidades.
- Isso desvia o foco de objetivos, hipóteses e problemas reais dos usuários.
- Roadmaps encurtam o pensamento, substituindo apostas por listas de funcionalidades.
- Em vez de discutir apostas estratégicas ou oportunidades, times caem em decisões do tipo “feature A ou B”.
- Roadmaps reforçam o mindset de entrega alimentando a lógica de "feature factory".
- O time vira executor de backlog em vez de coautor da direção estratégica.
- Isso alimenta a cultura de “pedido e entrega” (feature factory).
Ele defende que o foco deveria estar em:
- Objetivos claros
- Problemas a resolver
- Hipóteses estratégicas
- Apostas alinhadas ao Decision Stack
Ele não propõe abolir planejamento, mas substituir o roadmap tradicional por algo que conecte estratégia, aprendizado e impacto.
Não se trata de eliminar o planejamento, mas de recolocar o roadmap como consequência da estratégia, e não como o ponto de partida.
O papel dos princípios
Na base do stack, os princípios orientam como as decisões são tomadas no dia a dia. São úteis para evitar microgestão e manter a autonomia dos times, mesmo com alinhamento estratégico claro.
Eriksson recomenda o uso do modelo even/over statements para formular esses princípios, com exemplos do tipo:
- Qualidade mesmo que custe velocidade → Quality even over speed
- Foco no usuário mesmo que reduza eficiência interna → User focus even over internal efficiency
Esse formato força decisões explícitas sobre trade-offs e evita ambiguidade em situações de conflito. Princípios bem definidos ajudam a guiar decisões distribuídas sem comprometer a consistência.
Roger MartinIf the opposite of your strategy sounds stupid, it’s not a strategy.
Conclusão
Eriksson insiste que PMs não devem esperar permissão para pensar estrategicamente. Se a liderança não fornece clareza, cabe ao time de produto propor uma visão e uma estratégia. O time deve usar dados, discovery e hipóteses para provocar a conversa e elevar o papel do produto dentro da organização.